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Ser Monge

“Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”
Agostinho de Hipona, Confissões (I, 1, 1)


O monge é aquele que pressente na inquietação e no desassossego do coração humano o sentido de sua existência, e ao experimentá-la intensamente, renuncia a tudo o mais e faz de sua vida uma busca pelo “único necessário”: o Único que pode saciar essa sede.
Desde os tempos de Santo Antão do Egito, Pai do Monaquismo, homens e mulheres percebiam-se chamados a deixar tudo e, na solidão do deserto, consagrar-se ao serviço de Deus e de toda humanidade através de uma vida de oração e trabalho.


Bento de Núrsia, um monge italiano do século VI, foi mais longe e, além de assumir essa belíssima vocação, sintetizou essa tradição monástica cristã, escrevendo uma regra de vida monástica que se tornou a principal referência dos mosteiros do Ocidente.
 

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Ordem Cisterciense

“A nossa ordem é mortificação, humildade, pobreza voluntária, obediência, paz e alegria no Espírito Santo.
A nossa Ordem significa estar sob um mestre, sob um abade, sob uma regra, sob uma disciplina.
A nossa ordem consiste no exercício do silêncio, na prática do jejum, na vigília, na oração, no trabalho manual e, sobretudo, em seguir o melhor caminho que é aquele da caridade; e depois em todas estas coisas progredir dia a dia, e perseverar nele até o último dia” 
São Bernardo de Claraval, Carta 142.

 

Como é comum acontecer na história da Igreja, novas formas de vida e de espiritualidade surgem fervorosamente, estabelecem-se firmemente em instituições e acabam por vezes se afastando dos valores e ideais de sua origem. E a vida monástica beneditina não escapou a esse padrão.


Em 1098, havia no ar uma percepção de que algo precisava ser reassumido pelos mosteiros do Ocidente, assim, entre outros movimentos de renovação, três monges oriundos do mosteiro de Molesmes, na França, Roberto, Alberico e Estêvão, lideraram um grupo de irmãos desejosos de voltar à forma original da vida beneditina. Buscando o retorno às fontes, acabaram dando sua contribuição deixando uma marca de originalidade no carisma e na organização da Ordem (que se tornou uma comunidade de comunidades, unidas pelo vínculo da caridade).


Seu destino foi a região de Cister, na Borgonha. Ali, os monges erigiram o Novo Mosteiro. Era o início do que viria a se tornar a Ordem Cisterciense, cujo carisma é marcado pela busca espiritual num ambiente de silêncio, trabalho manual, simplicidade, solidão e vida fraterna. São Bernardo de Claraval e outros grandes místicos e teólogos do século XII consolidaram a espiritualidade dessa Ordem.

Essa nova família monástica, porém, por diversas vicissitudes histórias, após o século de ouro dos Padres Cistercienses desviou-se de seu primeiro amor (Ap 2,4).
Assim, nos séculos XV e XVI surgiu um movimento de reforma dentro da Ordem Cisterciense, que buscava restaurar a vida monástica em seus propósitos originais. O Mosteiro de La Trappe, na França, tornou-se a maior referência deste movimento no século XVII sob o báculo do abade Armand Jean de Rancé. Foi daí que surgiu o nome de “Trapistas”: aqueles que aderiram ao movimento liderado pelos monges de La Trappe (muitos hóspedes e visitantes pensam que o nome "Trapista" vem de “trapos”, mas a origem do nome é La Trappe).


No ano de 1892 finalmente, os mosteiros reformados foram reunidos em uma única congregação autônoma de direito pontifício, constituindo a Ordem Cisterciense da Estrita Observância da qual nosso mosteiro trapista brasileiro jubilosamente faz parte!

O Mosteiro de Cister fundou na França o Mosteiro de Notre-Dame de Melleray, em 1134. Em 1848, por sua vez, a Abadia de Notre-Dame de Melleray fundou o primeiro mosteiro trapista nas Américas:  Nossa Senhora de Gethsemani, no estado do Kentucky nos EUA – onde ingressaram o jovem Thomas Merton (em dezembro de 1941) e, um pouco mais tarde, o nosso Pe. Félix (em 1952), de quem Thomas Merton foi Mestre de Noviços.

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Em 1951, Gethsemani fundou no estado de Nova York o Mosteiro de Nossa Senhora de Genesee. Naquela época, as vocações eram abundantes nos EUA e os mosteiros trapistas floresciam e se expadiam. Assim, a comunidade de Genessee também iniciou o planejamento de uma nova fundação no Brasil durante a década de 1970. Três monges foram designados para a missão: Ir. Cipriano Gruber, Ir. Barnabé Jaksa e Pe. Jerônimo Burke. No entanto, seria necessário mais um para completar o grupo – alguém que atuasse como superior.


Durante essa gestação da nova fundação, o então abade de Genessee, Dom John Eudes Bamberger, partilhou com um outro abade, por ocasião de um encontro, a atual situação do projeto: tinham já três fundadores, mas faltava um que servisse como superior. “Eu tenho um monge para lhe indicar”, disse Dom Agostinho Roberts, abade do mosteiro trapista de Azul na Argentina, com quem Dom John conversava.


A pessoa indicada foi um monge originariamente de Saint Joseph´s Abbey, em Spencer, no estado de Massachussets nos EUA, mas que naquela época vivia na comunidade de Azul, fundada por Spencer:
Pe. Francisco Dietzler.

Ele, que já havia participado da fundação do Mosteiro de Miraflores, no Chile, foi informado por seu abade sobre essa possibilidade. Em seguida, embarcou para os EUA para passar um tempo em Genesee e conhecer a comunidade e os seus companheiros de missão e, movido pelo Espírito, aceitou a proposta.

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D. John Eudes havia entrado em contato com bispos brasileiros para sondar a possibilidade de uma fundação no Brasil e investigar o local mais adequado para a nova comunidade. Dom Pedro Fedalto, então arcebispo de Curitiba, tomando conhecimento do caso, mostrou-se bastante entusiasmado por ter um mosteiro trapista em sua arquidiocese.
Os detalhes foram se acertando entre D. John e D. Pedro, e os quatro fundadores partiram com destino ao Brasil em 1977 para realizar a fundação a princípio no município da Lapa, no Paraná, numa propriedade doada por um generoso sacerdote.

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Essa propriedade, porém, acabou não sendo apropriada para o projeto, mas, no início dos anos 1980, os fundadores encontraram outra mais apropriada e, assim, a comunidade mudou-se para Campo do Tenente, também no Paraná e, naquela época, dentro da Arquidiocese de Curitiba.

O Caminho Estreito

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Após a sua fundação, muitos foram os desafios enfrentados pela comunidade trapista de Novo Mundo para a sua consolidação. Não fosse a contribuição de diversos monges, essa história talvez já teria terminado. Nesse sentido, merece especial menção, a atuação de Dom Bernardo Bonowitz, que foi monge e superior desse mosteiro por 23 anos! Com grande amor e dedicação, entre alegrias e provações, ele ajudou a formar as novas gerações do mosteiro, garantindo sua continuidade e deixando sua marca particular em sua espiritualidade e carisma.

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Assim, por tudo o que representou a esse mosteiro, o retorno de Dom Bernardo aos Estados Unidos por motivo de saúde em 2019 marcou um novo momento na vida de Novo Mundo, cheio de possibilidades e desafios. Com a graça de Deus, porém, os irmãos de Novo Mundo assumiram valorosamente a incumbência de dar uma resposta a esse novo hoje de sua história! Confiando inteiramente suas vidas à Virgem Santíssima, empenham-se por viver com alegre fidelidade o árduo e estreito caminho que leva à vida, transmitindo-o às novas gerações que virão, não tendo nenhum outro desejo se não o de nada antepor ao amor de Cristo!

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